Medo ou Mistério?
Com certeza coragem não é ausência de medo. Medo é algo tão natural em nós, que as vezes me pego pensando se o medo realmente não é um instinto defensivo?
Quando nascemos já demonstramos medo. Buscando uma definição própria para o medo eu encontrei dentro de mim o mistério do desconhecido.
Por isso compreendi que uma criança não só consegue assistir um filme várias vezes, ouvir história várias vezes como precisa disso. Isso faz muito bem para que ela conheça melhor o desconhecido.
O mistério de não saber como são as coisas, cria em nós uma expectativa talvez negativa, porque infelizmente gostamos mesmo do óbvio. Da claridade, da simplicidade. De conhecer e reconhecer.
A gente só enjoa de repetir as coisas quando consegue fazer com que alguém repita. Mas há quem nasceu propositadamente conhecendo os mistérios do escuro, das noites, matas, cidades e manhãs.
Parece que tem gente que já conhece o começo e o final das coisas. E essa gente ainda nasce com uma dose extra de impetuosidade. É como um vento forte que desbrava as coisas que são tão simples, mas que não conhecemos ainda.
Graças a essa gente podemos fazer outros enfrentarem seus medos, ou melhor, como eu mesma defino. Medo é o mistério. Não reconhecer algo por meio das repetições. Então vamos repetir onde há e não há perigo.
E nessas repetições de enfrentamento vamos nos tornando adultos. E crianças precisam de adultos não de gente grande, mas de gente que desbrava o mundo para elas se sentirem seguras. Acho que essa gente realmente se chama adulto.
Esse negócio de contar histórias de monstros é coisa de gente grande, mas quando contamos que o próprio monstro do mistério pode ser desbravado e se torna reconhecido como algo necessário ou desnecessário estamos formando outros seres corajosos, estamos sendo adultos e formando adultos também.
Ainda assim o melhor é aprender enfrentar os mistérios da vida. Não esquecendo que o medo nos protege dos mistérios que deverão continuar sendo mistérios.
Suellen Maper

